Estadia no Ashram de Swami Dayananda, Anaikatti


Foi com muito prazer e alguma expectativa que me inscrevi num “camp” de Yoga e Vedanta com Swami Dayananda, em Anaikatti, Coimbatore, Sul da Índia. A proposta seria passar de 15 de Maio a 15 de Julho imerso no ensinamento pois o ritmo das aulas é constante e o Swami Ji quase nunca tem tempo para parar o que está a fazer e dar dois meses de atenção a novos alunos. Para terem uma ideia melhor do que se passava no ashram aqui vai o programa do camp:

Puja no Templo 5:15 am às 6:45 am
Meditação 6:30 am às 7:00 am
Gurukulam Seva 8:00 am às 9:00 am
Aula de Vedanta 9:00 am às 10:00 am
Cantos Védicos 10:00 am às 10:30 am
Aula de Vedanta 11:15 am às 12:15 pm
Tempo livre 1:00 pm às 3:00 pm
Aula de Yoga 3:30 pm às 4:30 pm
Aula de Vedanta 5:00 pm às 6:00 pm
Puja no Templo 6:00 pm às 7:00 pm
Satsanga 8:00 pm às 9:00 pm

Eu cheguei ao ashram 15 minutos antes da primeira palestra no primeiro dia (08h45m), em que o horário foi ligeiramente alterado. Assim, apenas tive tempo para pousar a mala no quarto e sair a correr para a sala de aula.

Não conhecia nenhum dos cerca de 50 participantes, apenas sabia, pelo professor Miguel Homem, que alguns dos seus amigos brasileiros estariam presentes, e ele fez o favor de enviar um email a anunciar a minha chegada. Com o passar do tempo vim a conhecer os meus colegas de curso e fiquei a saber que haviam participantes da Ilha da Reunião, EUA, Escócia, Japão, Brasil, Índia, entre outros.

A primeira impressão ao chegar na Índia é a sensação de calor abafado que se vive lá comparando com o frio do norte de Portugal. Eu aterrei no aeroporto de Bangalore à meia-noite e estariam uns 30 graus, e muito movimento, as lojas do aeroporto abertas e felizmente conheci um outro professor de yoga do Canadá chamado Colin que aguentou comigo 6 horas até ao nosso voo de ligação. Eu fui para Coimbatore e ele seguiu para Chennai. Nesse intervalo de tempo já deu para provar um pouco da cultura dos indianos pois fartamo-nos de beber chai e interagir com os locais.

Como era a minha primeira vez na Índia tinha algum receio dos mosquitos e das doenças, por isso, levei repelente e fiz as vacinas da Hepatite A, Poliomielite, e o tratamento para malária/paludismo, que não me causou nenhuma reação adversa. Levei, por sugestão do professor Miguel Homem, Acidophilus para criar uma forte “barreira” intestinal devido aos fortes condimentos que se usam na comida. Chegada a hora da viagem despedi-me de Colin e fiz um voo bastante curto até Coimbatore, e, para meu espanto, os serviços pré-pagos de táxi já têm uma tabela de preço para a ida ao ashram, que ficou por 550 rupias. Também fiquei a saber que não é costume dar gorjeta ao condutor, mas eu infrigi essa norma.

Assim que passei os portões do ashram senti-me em casa. Numa placa dizia: “Isto é um lugar sagrado”. Nunca duvidei. E foi com muito interesse que filmei a primeira vez que vi Swami Ji. Estava num bom lugar, na fila da frente do lado direito. À minha volta tinha pessoas sentadas nas cadeiras. Na sala 4 ares condicionados repunham a frescura necessária para manter a atenção nas palavras do mestre. E foi logo na primeira aula que eu percebi a CLAREZA que é necessária cultivar para o estudo de Vedanta ou Jñana Yoga. As palavras do mestre são como a àgua de uma nascente pura que nos refresca, nos alimenta, nos banha e acolhe sem nada esperar em troca. Daí ter percebido realmente a importância de ter um mestre que seja um stotrya e brahmanista, isto é, aquele que segue um método de ensino tradicional e que vive o que fala. Nas suas primeiras palestras, Swami Dayananda falou sobre “sadhanachatustaya kim”, ou seja, as quatro qualificações necessárias para o estudo de Vedanta, algo que se encontra, por exemplo, no Tattvaboddhah de Sri Sankaracharya.

Das mais bonitas experiências que tive foram as manhãs no templo, pois esse local não tem paredes mas apenas pilares, telhados e as representações das divindades e, assim, podemos ver o sol nascer enquanto vocalizamos mantras. Não existem mais palavras que definam o indiscritível. Nos cinco primeiros dias não dormi. O jet lag foi tremendo. No entanto, uma swamini tranquilizou-me dizendo que o mestre não dormiu durante 3 anos em busca da verdade.

Seja como for, eu passava as noites quase como um guarda nocturno rondando pelo ashram vendo o maravilhoso céu, animais selvagens e meditando o tempo todo. Fiz amigos inesquecíveis como o Gabriel, o Victor, o Ramu e também a Manu que estudam na Índia faz já um tempo. Fora as actividades estabelecidas ainda deu tempo para ter uma aula de sânscrito com o Victor e comprar um montão de livros. A vantagem é que lá os livros são muito baratos. Como o meu fuso horário não se adaptou muito bem à viagem eu interrompi os meus estudos e voltei para Portugal mais cedo, mas não sem antes perguntar a Swami Ji se me aceitava como seu discípulo. Ao que ele respondeu “yes, yes, yes...”. Para além disso, incumbiu-me uma tarefa, ajudar na organização da sua vinda a Portugal.

Se eu escrevesse mais 10 páginas sobre o assunto ainda assim seria pouco, por isso, deixo-vos apenas o conselho de que, caso seja um desejo do vosso coração ir à Índia, preparem-se o melhor que puderem e estejam abertos, receptivos e absorvam o que o Oriente tem de melhor - Lux. Para verem algumas fotos feitas nesse local, apontem o vosso browser para www.flickr.com/people/gustavoandrecunha.

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