Yoga Vasishtha: Oitava Conversa

Disse o príncipe Rama:

“Senhor, as tuas palavras suscitam na minha mente uma dúvida semelhante a uma nuvem outonal, e rogo-te que a dissipes. Diz-me, Senhor, tu que possuis perfeitamente o conhecimento Espiritual, porquê que não se vêem subir aos céus os corpos dos libertados em vida?”

Respondeu o bem aventurado Vasishtha:

“Deves saber, oh Rama, que o poder de subir aos céus e voar pelos ares pertence de forma natural a todas as criaturas voadoras, como os insectos e os pássaros. Os diversos movimentos que se vê produzirem-se nas diferentes direcções estão de acordo com as tendências naturais dos corpos e não são desejados pelo yogui liberado. Voar pelos ares não representa nada desejável para o yogui libertado em vida. Pessoas não Espirituais, não libertadas e ignorantes podem adquirir facilmente o poder de voar mediante procedimentos físicos artificiais, como mantras e outras práticas de Yoga inferior. Voar não é a ocupação do yogui Espiritual, que não se interessa a não pelo conhecimento do Espírito; contenta-se com o seu conhecimento Espiritual e com a união com o Supremo sem misturar-se com as práticas dos ignorantes e falsos Hatha-Yoguis.

Entende que toda a tendência terrena está engendrada pela cegueira Espiritual. Seria, então, um verdadeiro yogui aquele que se submergisse nessa ignorância grosseira?

Quem seguir semelhante carreira, com o bem-estar temporal como meta, deve estar cego em relação ao seu futuro bem-estar!

Mediante mantras e outros métodos é possível, tanto para o sábio como para o ignorante, adquirir o poder de voar pelos ares; mas o verdadeiro yogui mantêm-se à distância dessas coisas e não as deseja; encontra o contentamento em si mesmo e o descanso em Brahman.

Permanece impávido o tempo todo da mesma maneira que o oceano não se vê em nenhum modo afectado pelos muitos rios que desembocam nele, e prossegue a sua adoração e a sua meditação sobre o Espírito divino que reside na sua própria mente.”

O príncipe Rama prostrou-se aos pés do seu Mestre, e o bem aventurado Vasishtha o benzeu beijando-lhe a cabeça, e continuou:

“Entende, oh nobre Príncipe, que o ser possuído pela mente é a causa das desgraças, e que extinguí-la em Deus é a fonte da felicidade. A mente assaltada por desejos vãos, a causa dos objectos perecíveis, está sujeita a repetidos nascimentos, que são fonte de aflições sem fim; enquanto que aquela que é penetrada por qualidades carinhosas deseja o maior bem para todos os seres e libertou-se das angústias dos renovados nascimentos neste mundo de dor.

O corpo é semelhante a uma árvore revestida pelas plantas trepadoras das suas acções; enquanto a avareza, é como uma enorme serpente que se enrola ao redor do seu tronco, enquanto que as nossas paixões e desejos são os pássaros que nele nidificam. O mundo não é senão uma criação da nossa imaginação, da mesma forma que as crianças imaginam um duende oculto na escuridão. O nosso conhecimento dos objectos é tão enganador como a aparência do movimento duma montanha para o passageiro de um barco. Todas as aparências são a manifestação do erro ou da ignorância, e dissipam-se ao adquirir o justo conhecimento.

Oh Rama, discípulo bem amado, deixa as coisas materiais e busca o Uno universal, fundamento de toda a existência. Aprende a conhecer essa Unidade como totalidade de todos os seres e como Uno único digno de adoração. Pensa que todos os corpos pertencem à Única Essência comum e goza da completa beatitude dando-te conta de que tu és ela, que abarca todo o espaço.

Aquele em quem se dissolve toda a existência finita permanece em Si mesmo sem mudanças; quem O conhecer em seu próprio Si mesmo não pode sofrer dor, senão gozar da completa beatitude n´Ele. Todas as coisas criadas são percebidas no espelho da Sua inteligência como as sombras das árvores da ribeira dum rio reflectem-se nas águas límpidas que correm junto aos seus pés.

É mais brilhante que a coisa mais brilhante, mais escuro que a mais escura; Ele é a base de toda a substância e supera por todas as partes a extensão do espaço. Príncipe bem amado, com ardor esforça-te em residir nesse supremo estado de felicidade, o mais alto que o homem pode desejar. Portanto, oh Rama-ji, sê profundamente sábio, ainda que sincero e doce nas tuas conversas. Observa todas as coisas na única e imutável luz de Atman; que em tua mente não entre nem o temor à escravidão nem a impaciência pela libertação. Vive na verdade, na meditação, e escuta com reverência os ensinamentos sagrados que saem dos meus lábios ou de qualquer outra fonte.

É necessário escutar os Shastras e comentá-los, oh Rama, porque inculcam os textos sagrados com doçura e infundem na mente o delicioso bálsamo do verdadeiro conhecimento. Da mesma forma que podemos perceber os raios de sol que banham os muros de uma casa graças a nossos órgãos visuais, assim a luz do conhecimento Espiritual penetra na mente dos homens, quando escutam os Shastras, graças aos seus ouvidos. É o ensinamento que melhor nos oferece o conhecimento da Verdade e é o verdadeiro conhecimento que nos proporciona a serenidade que nos permite dormir no esquecimento desperto e tumultuoso mundo.”

O príncipe Rama inclinou-se perante o Sábio iluminado e disse:

“Oh Senhor bem aventurado, és-me mais querido que a minha própria vida; a tua presença e a tua palavra fizeram brotar deste lugar doces gotas de alegria e santidade; de verdade, a companhia dos virtuosos é a felicidade suprema do homem!”

O rei, a rainha e os ministros levantaram-se em sinal de veneração, tocaram os pés do bem aventurado Sábio, ofereceram-lhe flores, água e presentes e ele, abençoando-os, disse-lhes:

“Om Tat Sat! Shanti! Shanti! Shanti!”

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