Yoga Vasishtha: Quarta Conversa

Disse Rama:

“Senhor, como podemos deter a roda da ilusão que, com a sua rápida rotação, constantemente mói cada parte do nosso corpo?”

Disse Vasishtha:

“Entende, Rama, que o mundo, com o seu curso circular, é a grande roda; e o coração humano o seu cubo ou o seu eixo, o qual, devido à sua contínua rotação, produz toda esta ilusão dentro da sua circunferência. Se com o teu valente esforço fores capaz de parar esse movimento do teu coração, deterás ao mesmo tempo a rotação da órbita da ilusão.

A mente que descuida este conselho expõe-se a uma miséria sem fim, enquanto que se o mantiver sempre presente no seu espírito, evitará todas as dificuldades deste mundo.

O mundo está na mente como o ar está contido num recipiente, e és o contínuo prisioneiro desse mundo mental imaginário que é o teu como uma mosca encerrada no recipiente; não conseguirás a libertação se não escapando desse encarceramento, como a mosca sai voando ao ar livre.

O meio de desembaraçares-te dessa ilusão da mente é fixar a tua atenção no momento presente e evitar que os teus pensamentos se dirijam aos feitos passados ou futuros.

A mente está obscurecida enquanto a bruma dos seus desejos e caprichos a envolvem, como o céu está encoberto enquanto nele se acumulam as nuvens.

Quando na mente se produz uma actividade, esta vê-se inevitavelmente acompanhada de um cortejo de desejos, assim como do sentido de prazer e do sofrimento; sentimentos e paixões formam a sua escolta, como vagueiam os corvos perto de um vulcão extinto. As almas dos sábios não carecem de actividade, mas, como conhecem a vaidade das coisas terrenas, o que carecem é desses sentimentos que aprisionam. Adquiriram o conhecimento da irrealidade e da inexistência dos objectos e feitos terrenos graças ao conhecimento da natureza das coisas e ao estudo dos ensinamentos de Yoga Adhyatma que se transmitem nos Sat-Sangas e noutros lugares, e graças também à sua assiduidade com o Mestre, à sua prática da meditação e à sua vida livre de egoísmo.

Deixa de lado tudo o que seja tangível ou que possas conseguir com a tua acção pessoal; permanece impassível e indiferente perante tudo o que seja do mundo, remete-te unicamente à tua consciência do Infinito. Pensa de ti mesmo que dormes quando estás desperto; pensa de ti mesmo que és todo e uno com o Espírito supremo.

Reverenciamos aqueles yoguis que conheceram a natureza de Si mesmo e tenham alcançado o estado Espiritual.

À vista de Atman, as luzes dos corpos celestes se extinguem como velas e o resplendor do sol não és mais que um débil reflexo da Luz das luzes.

Quem conhece a verdade de Deus, ocupa uma classe superior dentro da humanidade pelo seu auto-sacrifício e pela grandeza da sua mente; e conseguiu-o graças à prática de Yoga.

Aqueles que ignoram a verdade, são mais vis que os asnos e as demais criaturas bestiais que vivem sobre a face da terra; são inferiores aos mais baixos insectos escondidos em buracos subterrâneos. Com eles não se pode contar; é preferível manter-se afastado.

O homem não Espiritual dá tombos por esta terra e deixa-se consumir pelas suas preocupações como é devorado um cadáver pelas chamas da sua pira funerária; mas o yogui é consciente da sua imortalidade.

Não esperes podar com o machado afiado da razão o grosso tronco da cárvore envenenada da avareza que se ergue como uma montanha na cavidade do teu coração; corta o ramo das esperanças e apressa-te a desbastar as folhas do desejo.

Rama, escuta o que o teu senhor diz aos futuros yoguis!

Afugenta a mente voraz que, como um corvo, nidifica no teu coração; ela gosta de frequentar os lugares hediondos, da mesma forma como planam os corvos sobre os campos reservados a rituais funerários e as gralhas elegem como sua vivenda onde reina a sujeira e se saciam comendo a carne que apodrece nos ossos. A mente voraz utiliza os seus lábios, como a gralha o seu bico, apenas para atacar aos demais.

Percebe que a avareza é uma serpente venenosa que, com o seu mortal alento, mata a quem lhe obedece. Essa serpente é a causa da ruína da humanidade.

Já que o Todo único está na mente, não há lugar para o lamento de ter perdido o que seja.

Aquele de intenção pura, que se tenha consagrado a Deus e que tem como única companhia quem difundir ao seu redor o conhecimento do Yoga, é tão belo como o cisne branco entre os graciosos pássaros de um lago de ondas prateadas.

As almas que, nesta vida, põe a sua confiança em objectos mundanos, não podem saborear a verdadeira felicidade. Os desejos e pensamentos da mente determinam o seu nascimento numa próxima encarnação. Daí que o recém nascido se veja presenteado com uma grande quantidade de sono porque crê que está morto e repousa na noite da sua morte.

A busca da bondade e da grandeza faz um homem grande ou bom, da mesma maneira que quem quiser ser um Indra, quando dorme sonha com o seu próprio senhorio. Uma busca sem reservas da Verdade, extinguirá imediatamente os teus desejos, e a extinção dos teus desejos restabelecerá a paz na tua mente.

O objectivo da sabedoria é o conhecimento de que no mundo não há nada real.

Os verdadeiros yoguis, que colocam o seu progresso Espiritual sobre toda outra ganância, que respeitam tanto a Verdade como o Instrutor, que vivem para a Verdade divina, têm o poder de submeter às suas ordens o seu próprio destino; podem transformar em bem todos os males e tornar perpétua a sua prosperidade.

Quem em si mesmo percebe a omnipotência do Espírito infinito e faz dele a sua residência, tem a justa percepção. Quem vê a sua mente como um fio no qual todas as coisas estão enlaçadas como as contas de um colar, tem a justa compreensão.

Quem considera que o que se chama “os três mundos” não são mais que os fragmentos do seu próprio Si mesmo envolvendo-o como as ondas domar, tem razão.

Quem observa o frágil mundo com comiseração e experimenta na terra a mesma compaixão que experimentaria se se tratara da sua irmã pequena, é sábio.”

Ao chegar a hora das orações da noite, o bem aventurado Sábio terminou o seu discurso; toda a assembleia se levantou e derramou flores sobre o trono de Vyasa exclamando:

“Jay! Jay! Jay!”

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