Yoga Vasishtha: Terceira Conversa

Continuou o Bem-aventurado Vasishtha:

“Deves considerar todas as coisas à luz dos Shastras e penetrar no seu verdadeiro significado; também tirarás proveito dos ensinamentos do teu Mestre meditando neles na tu mente e com o constante empenho em desdenhar o visível até que chegues a conhecer o Uno invisível.

Podes chegar a esse estado de santidade mediante a quietude, o conhecimento dos Shastras e da sua doutrina, escutando as homílias dos mestres Espirituais, assim como adquirindo a convicção de que és capaz de conseguí-lo.”

Disse Rama:

“Santo instrutor, tu és o sol do dia do Conhecimento Espiritual; és um fogo resplandecente na noite das minhas dúvidas; és a lua que refresca o calor da minha ignorância.

Sê suficientemente bom para explicar-me quem tem maior mérito, o devoto que vive em sociedade ou aquele que se retira em solidão.”

Respondeu Vasishtha:

“Ambas almas são felizes enquanto gozem da calma em si mesmas. Quem vê as qualidades e propriedades das coisas como algo distinto do Espírito, goza de uma paz serena dentro dele que se chama samadhi.

O homem de mente esclarecida que é activo no mundo e o sábio iluminado que permanece no seu retiro são semelhantes na sua serenidade Espiritual e indubitavelmente atingiram o estado de beatitude.

Na actividade ou inactividade da mente reside a única causa da agitação ou da tranquilidade dos homens. Desejos urgentes invadem a mente da vaidade que corresponde à sua natureza, e essa é a causa de todas as suas desgraças: esforça-te, portanto, em atenuar a todo o momento as tuas inclinações mundanas.

Quando a mente está em paz porque se libertou de temores, aflições e desejos e se estabelece no repouso, esse estado chama-se samadhi.

A casa dos chefes de família que tenham dominado bem a sua mente e tenham abolido o seu sentido de egoísmo, é tão boa como a solitude da selva, a frescura das grutas ou a paz dos bosques, oh Rama-ji.

Os homens de mente apaziguada observam os mais esplêndidos monumentos urbanos com o mesmo olhar impassível com que contemplam as árvores de um bosque.

Quem, no seu Espírito mais interior, vê o mundo em Deus, é de facto o Senhor da humanidade.

O mundo não é, senão paz para os yoguis de mente controlada; é a Mente divina que o manifesta em forma de ego, e o mesmo ocorre no mundo.

Aquele que atingiu a paz exterior e interior graças à prática de Yoga e da virtude, assim como pelo serviço ao seu Instrutor, e considera o mundo como algo inseparável de Deus, esse goza de samadhi em todas partes; mas aquele que sente diferenças e separa o seu ego dos demais, vê-se incessantemente cambaleado pelas ondas redemoinhas do mar. Aquele que cumpre com o seu dever mediante os órgãos de acção enquanto guarda a sua mente na meditação interior e não é afectado pela alegria ou a aflição, chama-se yogui impassível.

Aquele que contempla com calma o rumo do mundo tal como se desenrola ou se apresenta perante ele e permanece sorridente apesar das suas vicissitudes, chama-se yogui impassível.

Aquele que tenha chegado a um desapego Espiritual e a uma serenidade tais, realiza a perfeição suprema e é-lhe indiferente ser exteriormente elevado ou rebaixado, viver ou morrer.

Tanto lhe faz viver entre luxos na sua casa ou estar retirado da sociedade e guardando silêncio; para ele, tudo isso é o mesmo.

O conhecimento da extinção de toda a existência em Deus é o único remédio capaz de curar o erro que consiste em julgar-se uma entidade dualista separada; é o único meio de conseguir a paz da mente.

Assim como o desvanecimento da ilusão que confundia uma corda com uma serpente proporciona paz e alegria, a destruição do egoísmo em Atman traz paz e calma à mente.

Nenhum desejo agita a mente assim apaziguada, como nenhuma semente germina dentro de uma pedra, e os anseios que ás vezes possam manifestar-se são como as ondas do oceano, que emergem e se submergem no mesmo elemento.

Tudo está na mente, e a totalidade deste universo, sem divisão nem dualidade alguma, encontra-se nela: é uma com o Deus supremo.

Quando se liberta da sua habitual inconstância e do seu aquecimento febril, reencontra a sua antiga serenidade, como a onda, ao romper, retorna ao estado da água calma de onde saiu.

Guiadas pela sua avidez, as almas pequenas vivem entre ocupações que as enchem de preocupação, como um fervedouro de insectos na lama, e a sua avareza leva-as a cobiçar apenas coisas exteriores e a esquecer o Atman supremo no seu interior.

Oh Rama-ji, quando conseguires contemplar a grandeza do teu Atman à luz do santo Yoga ensinado pelo ilustre Manu, descobrirás que és maior que o céu e o oceano juntos.

Entende, oh príncipe bem amado, que, como o sol, que após ocultar-se aos nossos olhos não deixa de enviar a sua luz ao outro hemisfério, o teu intelecto continuará iluminando inclusive depois de ter decorrido o seu curso nesta vida.

Liberta o elefante —a tua mente— das cadeias do egoísmo e dos entraves da avareza.”

Quando o bem-aventurado Sábio Vasishtha conclui o seu discurso à Assembleia imperial, inclinou-se respeitosamente em homenagem aos Yoguis e Brahmacharis. O Imperador e os seus filhos ofereceram-lhe flores, água e presentes. Os devas fizeram chover flores celestiais e todos exclamaram:

“Jay! Jay! Jay!”

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