Yoga Vasishtha: Décima Segunda Conversa

Disse o bem aventurado Vasishtha:

«Escuta agora o que te vou dizer sobre o melhor remédio contra a enfermidade do coração: todos têm em si mesmo o poder de consegui-lo, não causa dano e toma-se como um xarope de agradável sabor.

Recorrendo à tua própria consciência e repelindo todos os objectos de desejo é como conseguirás subjugar a tua mente refractária. Quem permanece sossegado e renuncia aos objectos de seu desejo é em verdade o conquistador da sua mente. Deve-se tratar a mente com vigilância e mediante uma lógica fria, os preceitos dos Shastras e a companhia de homens desapegados.

Da mesma forma que não é difícil, quando uma criança brinca, fazer com que se mexa de um lado para o outro, tão pouco o é separar a mente à vontade de um objecto a outro.

Utiliza a tua mente para actos de bondade realizados à luz da tua compreensão e ocupa-a meditando em Deus à luz do teu espírito.

A renúncia a um objecto sumamente desejável está no poder de quem se resigna à vontade divina. Quem pode aceitar tanto o agradável como o desagradável, pode dominar a sua mente com a mesma facilidade com que um gigante vence uma criança.

Brahman, em perfeito repouso e penetrando tudo, não pode ser conhecido mais do que quando os desejos da mente são suprimidos mediante a arma da indiferença perante as coisas do mundo.

Em primeiro lugar, une-te aos teus pensamentos intelectuais ou abstractos e, em seguida, ás tuas aspirações espirituais. Sendo então o dono da tua mente, contempla a natureza de Brahman.

Pela tua aplicação e pela tua intenção imperturbáveis, oh Rama, poderás corrigir os erros da tua mente. A tranquilidade de espírito favorece a ausência de ansiedade, e o homem que tenha sido capaz de dominar a sua mente ri-se do domínio do mundo.

Nada nasce nem morre em nenhum momento; é a mente quem imagina o seu nascimento e a sua morte, assim como a sua migração por outros corpos e outros mundos.

A sempre flutuante faculdade de movimento implantada na mente é da mesma natureza que a força geradora de energia da mente divina, causa do movimento de impulsão dos mundos.
Apenas a mente pode subjugar a mente: quem poderia submeter um rei senão um rei?

Reprime os teus desejos de gozos terrenos e abandona o teu sentido de dualidade, e depois desembaraça-te das impressões de entidade e de não-entidade, feliz com o conhecimento da unidade.

Sê sábio, oh Rama, e não penses da mesma maneira que o ignorante. Reflecte bem sobre o que te digo. Não há uma segunda lua no céu, e se apesar de todo o parece, é devido a uma ilusão óptica. Não existe em nenhum lugar nada real nem irreal fora da essência una e verdadeira de Deus.

Não há nenhuma realidade existente ou inexistente em nenhuma coisa; tudo é criação do teu si mesmo quimérico. Não atribuas, portanto, nenhuma forma nem faças representação alguma do Espírito eterno, ilimitado e puro de Deus.

Já que o mundo é uma aparência mágica e irreal, que confiança se lhe pode outorgar e o que significam prazer e sofrimento? Percebe que este mundo é una ideia fantasma que aparece para enganar as nossas almas.

Ás vezes parece recto e ás vezes curvo; tão logo é largo como curto; tão logo se move como logo se imobiliza, e nada nele pára de mudar, mesmo que dê a impressão de ser estável.

Os homens pensam muito no seu próprio êxito e em muitos outros assuntos mundanos; mas não há progresso neste mundo declinante que se assemelha a um prato apetecível decorado de forma sedutora, mas cujo interior estivesse cheio de bílis. É como una lâmpada apagada cuja chama se tenha perdido, fugida não se sabe onde. Inacessível como una névoa, tenta colhê-lo: isso provará que não é nada!

Conhece Deus, oh Rama, e serve quem te fala d´Ele. Apenas Ele é real. Sabe-o agora ou depois de um milhão de reencarnações!

Capta quão proveitosa é a prática de Sat-Sang, assim como a proximidade de um Mestre, e conhece Deus.

Este mundo não é nada mais que uma rede surgida da nossa imaginação, como os gnomos no escuro imaginados pelas crianças.

Todas as aparências são expressões do erro ou da ignorância e desaparecem na alvorada do verdadeiro Conhecimento.

O sábio chama perfeição de conhecimento à certeza interior de que o mundo é ilusório; e do mesmo modo, um conhecimento de todas as coisas vistas é uma ilusão da mente. Por isso é necessário empenhar-se em apagar essas impressões da tua consciência, sabendo que a persistência nesses erros é a causa da tua escravidão no mundo.

Quando a mente desapegada não pensa em nada e permanece em si mesma numa quietude serena dominada pela sua consciência interior, adquire então a sabedoria, sem estar já sujeita nem ao tumulto do mundo nem à fatalidade de futuros nascimentos.

Realiza os mais perseverantes esforços para expulsar da tua mente as imagens do mundo e atravessa o perigoso oceano da aflição, que é o mundo, na segura embarcação das tuas virtudes.

Quando pelo poder da imaginação a mente consciente concebe a ideia de una forma qualquer, esta converte-se na semente da sua reprodução ou do seu nascimento na forma que se tenha visualizado. Assim, a mente se auto-reproduz e, extraviada pela sua eleição, converte-se na sua própria vítima; então perde a consciência da sua liberdade submetendo-se à escravidão da vida. Qualquer que seja a forma que a sua inclinação a ate, a revestirá, e enquanto dure o seu afecto não poderá desfazer-se dela, como tão pouco poderá retomar a sua pureza original a menos que se livre das paixões impuras.

Eu te digo, oh Rama, que se não podes prescindir de amar uma forma, então ama a forma de um Avatar de Deus, porque um se converte naquilo que ama e ao que serve com sinceridade.

Até que conheças a Verdade não poderás encontrar a paz da mente, e enquanto não possuas a quietude mental, estás excluído do conhecimento da Verdade.

Enquanto não elimines os desejos terrenos não alcançarás a luz da Verdade. O controlo da mente e o abandono dos desejos constituem conjuntamente o aceso à beatude espiritual, que não se podem conseguir se se realizam em separado.

Consagra-te às tuas meditações e ao bem de todos os seres vivos.

Um verdadeiro yogui Adhyatma não está triste nem melancólico durante as sus peregrinações pelo mundo, nem se encontra mais satisfeito e alegre quando se encontra em repouso. É feliz ao cumprir com o seu dever com um coração ligeiro, como um transportador que continua ágil apesar da sua carga.

Mesmo que o seu corpo se rasque por debaixo de rodas, seja empalado entre cadáveres ou exilado num deserto, seja atravessado por uma lança ou seja moído, quem crê no verdadeiro Deus permanece inquebrantável.

Vive em função da corrente cristalina da tua busca e encontrarás o descanso no estado sem mancha da pura Consciência; então, conseguindo graças à luz da compreensão o conhecimento e a visão de Brahman, deixarás de estar atado à cadeia de futuros nascimentos nesta terra.»

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