Deus está à escuta – Aseem Shukla

As ferramentas media sociais são uma benção ou uma maldição para as pessoas de fé? Devemos usar a tecnologia digital para comungar com o divino? Será que Deus tweeta?

Este fim de semana tive a felicidade de escutar uma palestra inspiradora do reverenciado Swami Dayananda Saraswati, mediador de uma representação que une muitos dos mais respeitados líderes espirituais do Hinduísmo. Houve uma frase que me marcou: “Os Hindus não acreditam em um Deus. Não acreditam em muitos Deuses. Os Hindus acreditam EM Deus.”

Ele refere-se, obviamente, à omnipotente imanência de Deus que define uma visão Hindu do Divino. Deus está em toda a parte, em tudo e toda a criação que o homem cegamente apelida de sua. Quer seja no Facebook, Orkut, Twitter ou SMS, Deus está à escuta. Perdoem-me a tautologia, mas todos sabemos que o meio usado para orar é irrelevante, é a sinceridade, a entrega e a devoção do aspirante que conta.

Bem, eu escutei a palestra de Swamiji ao vivo no Templo Hindu do Minnesota. Mas eu poderia facilmente ter ouvido esta palestra, e muitas outras, no conforto do meu lar via o mágico meio chamado podcast. Uma viagem ao templo requereu esforço e gasto de tempo e gasolina. Mas, no entanto, eu fui. De uma forma inata, nós sabemos que não há substituto para um encontro pessoal para nos aquecermos no brilho de alguém em comunhão próxima com o Divino.

Todo o Hindu pode sonhar em visitar o templo sagrado em Tirupati ou os templos de Shiva e Vishnu em Benares e Rishikesh – todos na Índia. E a ,agia da internet permite um darshan virtual, ou visão, do Divino a qualquer altura da minha conveniência. Mas milhões ainda embarcam ansiosamente na árdua jornada – alto nos Himalayas – sabendo que o ecrân deficientemente proporciona o esplendor e a grandiosidade da experiência pessoal da própria presencia de Deus. Um lugar sagrado para um Hindu, carrega uma vibração que sintoniza com a alma e purifica a consciência como nada mais.

Um templo ou altar caseiro oferece silêncio meditativo, representações de Deus que inspiram e companheirismo com buscadores semelhantes. Ainda assim, para um Hindu, oração, meditação e yoga, são ferramentas para a realização pessoal. A salvação ocorre internamente e em mais nenhum lugar. Se um podcast, sermão televisivo ou email reencaminhado ajudam a alguém voltar-se para o seu interior durante contemplação serena, então esse meio é ideal. Em última análise, esse é o verdadeiro teste – se a tecnologia é usada de uma forma que verdadeiramente ajuda a nossa jornada interior.

Mas em certa medida, não são so Tweets e Facebook outros sites de redes sociais edificados pelo ego? “Olhem para mim”, “ouçam/leiam o que eu tenho a dizer”, “sigam os meus tweets”, “vejam como sou esperto em relação ao que estou a fazer agora mesmo”. Eu (ego), Eu (ego), Eu (ego). O narcisismo inerente ao conteúdo das redes sociais é difícil de ignorar. Enquanto um Tweeter espiritual com milhões de “seguidores” tem o seu ego alimentado pelos seus seguidores, e isso é mau para ele, embora talvez possa ser bom para os seus seguidores que praticam os seus ensinamentos.

Foi com alguma frustração que o email e a internet invadiram a minha prática médica. Rotineiramente respondo a emails de pacientes e das suas famílias. As propostas de saúde que a Câmara dos Representantes e o Senado propõem certamente encorajariam tal tráfego como uma forma de aumentar a eficiência e o corte nas despesas – e os médicos podem integrar isso se a responsabilidade legal puder ser controlada.

Mas enquanto eu me preocupei inicialmente que o tráfego por email me pudesse separar dos meus pacientes, reduzir os meus rendimentos por afetar as visitas à clínica ou permitir que um problema sério do paciente fosse descartado, nenhuma dessas preocupações se materializaram. Ao invés disso, essa ferramenta permitiu-me permanecer acessível manter-me em contacto em caso de uma complicação afetar um paciente meu. Eu posso também poupar à família uma longa visita à minha sala de espera devido a um problema menor. No final das contas, os pacientes ainda enchem as minhas clínicas e usam o seu tempo para me visitarem – eles sentem-se imensamente seguros assim que o seu doutor deu uma olhada àquele “pequeno” problema pessoalmente.

Templos e igrejas não precisam de se preocupar, os fiéis virão sempre para comungar pessoalmente. Por isso, tweet à vontade e envie as suas mensagens escritas por telefone ao Senhor, e faça o seu darshan online na medida que isso preenche o seu coração. Apenas Deus sabe... quanto mais oramos/tweetamos ao Divino, menos as nossas mentes estão ocupadas com os caminhos totalmente prosaicos do mundo mundano.

Traduzido do Inglês por Gustavo Cunha do The Washington Post para Yoga Vaidika. Original em Inglês por Aseem Shukla, M.D., Professor em cirurgia urulógica na escola médica da Universidade do Minnesota, co-fundador e membro da administração da Hindu American Foundation. Publicado por The Washington Post; copyright © 2009 The Washington Post. Todos os Direitos Reservados. Website: www.washingtonpost.com. Este material não pode ser reproduzido em nenhuma forma ou vendido sem permissão escrita prévia de The Washington Post ou de Hindu American Foundation. Imagem de topo propriedade de Himalayan Academy, usada sob licença Creative Commons.

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