A História de Pingala - Karnamrita

De todos os cantores e cantoras de kirtan que existem, seria difícil encontrar alguém com uma voz tão pura e linda como Karnamrita. Ela tem vindo a cantar kirtan desde tenra idade e aprendeu música vocal clássica indiana em Vrindavan. Este tema, “A história de Pingala”, encontra-se no CD Dasi-prayers by Women, uma compilação de músicas e orações por ou acerca de grandes mulheres nas tradições Krishna Bhakti. Esta brilhante gravação é composta por versos retirados diretamente de uma secção do 11º canto de Srimad-bhagavatam conhecida como Uddhava-gita.

Uddhava-gita é uma fonte rica de ensinamentos sobre bhakti. Respondendo ao pedido de Uddhava sobre instrução em renúncia, Krishna narra o relato de um avadhuta acerca dos seus vinte e quatro gurus. Estes vinte e quatro gurus são um grupo eclético de pessoas, animais, e outros fenómenos naturais – por exemplo, a terra, o vento, o céu, a lua, a pitão, a mariposa, etc. O relato do avadhuta mostra-nos como podemos desenvolver sabedoria e convicção em bhakti através da observação daquilo que nos rodeia.

Um dos gurus, a prostituta Pingala, é o sujeito desta canção. Estes versos são a expressão da sua frustração com as buscas sensoriais e o seu jubiloso despertar para o desapego e a devoção.

Os versos de Srimad-bhagavatam foram incluídos, tanto o Sânscrito original como a tradução portuguesa. Recomendo o CD que tem uma variedade de lindas canções. Utilize o leitor abaixo para escutar.



Srimad-Bhagavatam 11º Canto, Capítulo 8

11.8.30
 - pingalovaca
aho me moha-vitatim
pasyatavijitatmanah
ya kantad asatah kamam
kamaye yena balisa

A prostituta Pingala disse: Vê como eu estou profundamente iludida! Como uma tola, eu desejo prazeres lascivos de um homem insignificante porque não consigo controlar a minha mente.

11.8.31
 - santam samipe ramanam rati-pradam
vitta-pradam nityam imam vihaya
akama-dam duhkha-bhayadhi-soka-
moha-pradam tuccham aham bhaje ‘jna

Eu sou tão tola que abandonei servir a pessoa que, estando eternamente situada no meu coração, é a mais querida para mim. Esse mais querido é o Senhor do universo, que concede o verdadeiro amor e felicidade e é a fonte de toda a prosperidade. Embora Ele esteja no meu próprio coração, eu negligenciei-O por completo. Ao invés disso, ignorantemente servi homens insignificantes que nunca poderão satisfazer os meus verdadeiros desejos e que simplesmente me trouxeram infelicidade, medo, ansiedade, lamentos e ilusão.

11.8.37 - 
nunam me bhagavan prito
vishnuh kenapi karmana
nirvedo ‘yam durasaya
yan me jatah sukhavahah

Embora eu, teimosamente, esperasse desfrutar o mundo material, de alguma forma o desapego surgiu no meu coração, e isso faz-me muito feliz. Portanto, o Ser Supremo, Vishnu, deve estar satisfeito comigo. Mesmo sem o saber, devo ter feito algo para O satisfazer.

11.8.38 - 
maivam syur manda-bhagyayah
klesa nirveda-hetavah
yenanubandham nirhritya
purushah samam ricchati

Uma pessoa que desenvolveu o desapego pode abandonar as ataduras da sociedade material, amizade e amor, e uma pessoa que passa por grande sofrimento gradualmente torna-se livre do desespero, independente e indiferente ao mundo material. Deste modo, devido ao meu grande sofrimento, tal desapego despertou no meu coração; porém, como poderia eu ter superado tão piedoso sofrimento se eu fosse realmente desafortunada? Portanto, eu sou de facto afortunada e recebi a misericórdia do Senhor. De alguma forma Ele deve estar satisfeito comigo.

11.8.39 - 
tenopakritam adaya
sirasa gramya-sangatah
tyaktva durasah saranam
vrajami tam adhisvaram

Com devoção, eu aceito o grande bem que o Senhor me concedeu. Tendo abandonado os meus desejos pecaminosos pela gratificação dos sentidos, eu agora tomo refúgio Nele, o Ser Supremo.

11.8.40 - 
santushta sraddadhaty etad
yatha-labhena jivati
viharamy amunaivaham
atmana ramanena vai

Agora estou completamente satisfeita, e tenho total confiança na piedade do Senhor. Portanto, irei permanecer com o que quer venha com o seu consentimento. Desfrutarei da vida apenas com o Senhor, porque Ele é a verdadeira fonte do amor e felicidade.

Retirado de BhaktiCollective.com e traduzido do Inglês por Gustavo Cunha para www.yogavaidika.com com a permissão do autor (Kaustubha Das). Imagem de topo propriedade de Karnamrita.

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