Aceitando as pessoas e situações como elas são - Camila Reitz

Sempre fui uma pessoa que não se conforma facilmente com os fatos que envolvem injustiça, falta de caráter, e principalmente acontecimentos que são desagradáveis para mim. Também sempre tive muita dificuldade em aceitar as pessoas como elas são, principalmente quando elas não são exatamente como eu gostaria que fossem. Sou uma pessoa comum, não diferente de todas as que julgam e tem aquela frase formada na ponta da língua: “na situação dele ou dela, EU faria de outra forma”.

Confesso que percebi ao longo dos anos que esse tipo de postura só fazia mal a mim mesma, afinal esse inconformismo produzia um sentimento de frustração muito grande que levava a um estado de raiva e não aceitação dos fatos. Compreendi e comecei então a perceber que as coisas são como são e as pessoas agem da melhor forma que conseguem. Basicamente não há nada que eu possa fazer a não ser me responsabilizar pelas minhas escolhas e acomodar as situações e as pessoas como elas são.

Mais tarde aprendi no livro “O valor dos valores” escrito por Swami Dayananda Saraswati, um valor chamado kshanti, que é freqüentemente traduzido como tolerância, ou capacidade de suportar. Porém a melhor tradução para nossa língua é acomodação. Não no sentido de acomodar-se e não fazer nada, mas ter a capacidade de aceitar sem resignação. É um desistir da expectativa ou da exigência pela mudança da outra pessoa ou da situação. É aceitar com o coração tranqüilo. E em alguns casos sabemos que isso não é nada fácil, por esse motivo dizem que kshanti é uma das características dos homens santos.

Pense em algo que você não gostou, ou uma pessoa que lhe tira do sério e irá perceber que na maioria das vezes acomodar é uma tarefa muito difícil, afinal de contas EU sei o que é melhor e ajo para que os resultados das minhas ações sejam de acordo com as minhas expectativas. Jamais faço uma ação para que o resultado seja errado. Jamais imagino que um amigo tenha uma ação inesperada por mim. Tenho expectativas, e elas são altas.

E é aqui que as experiências vividas e o conhecimento adquirido pela prática de Yoga e pelo estudo dos Vedas nos trazem conforto nas horas de dificuldades. Existem várias formas de encarar algo que deu “errado”, ou melhor, que não encaixa com as minhas expectativas.

Nutrimos muitas expectativas e acabamos sofrendo quando não nos responsabilizamos pelas nossas escolhas, lembre que, escolhas conscientes prevêem falhas. Geralmente retiramos nossa responsabilidade em relação às escolhas quando trabalhamos em grupo ou estamos resolvendo algo em família. Outra forma de sofrer muito é se colocar no lugar de vítima, e ficar com aquela pergunta sofredora e sem resposta: “porque que as coisas erradas só acontecem comigo?”, ou seja, retirando a responsabilidade de mim, culpando os outros e o Universo. Quando assumo minha responsabilidade, me torno forte o suficiente para aceitar os resultados das minhas ações, independente de quais sejam.

Vamos pensar sobre formas de agir que ajudam a aceitar as coisas como elas são e assim ser feliz independentemente das minhas expectativas. Afinal a felicidade está em viver o presente, e viver esse presente é aceitar as situações como elas, sem projetar no futuro, nem remoer o passado.

Primeiro lembre-se que quanto mais exigente você for com você mais expectativas terá. E geralmente quando sou exigente comigo, tenho a tendência de ser ainda mais exigente com os outros. Dessa forma fica difícil para eu aceitar o meu próprio erro, acabo por me culpar, e mais difícil ainda aceitar o erro do outro.

Para acomodar as pessoas é necessário compreender que nunca encontrarei um relacionamento que não necessite de acomodação. Afinal todas as pessoas têm qualidades maravilhosas e também defeitos insuportáveis. Tenha sempre em mente que ninguém é somente ruim, e assim como eu tenho vários defeitos, também tenho minhas qualidades. Exercitando um olhar amplo, e percebendo o bom de cada ser, o coração se abre, tornando-se capaz de aceitar as pessoas como elas são, sem cobranças ou expectativas de que elas sejam diferentes.

Acomodar as situações requer um estado de Yoga, onde há plena consciência ao escolher as minhas ações. Sou responsável pelos meus atos, e consciente de que minha visão não é ampla o suficiente para perceber a amplitude dos fatos através dos anos. O tempo e a entrega também nos ensinam a viver e apreciar tudo como é, pois sabemos que os anos ensinam coisas que os dias desconhecem. Tudo tem sua perfeita ordem e é exatamente da forma que tem que ser. Com essa atitude, aproveito cada momento, pois ele é único. Abro meu coração e sou feliz independentemente dos acontecimentos externos.

E quando for difícil acomodar as situações experimente repetir a frase que aprendi com meu amigo Prof. Hermógenes: “Entrego, Confio, Aceito e Agradeço”. Pode ter certeza que funciona.

Camila Reitz pratica Yoga há 16 anos, estudou no Brasil, Índia, Estados Unidos e Austrália, é diretora do Yogashala em Florianópolis onde ministra curso de formação para professores de Yoga. E sempre dá uma olhadinha nas anotações sobre as metas, os compromissos e o sankalpa.

Retirado de Yogashala e republicado em www.yogavaidika.blogspot.com com a permissão da autora (Camila Reitz). Imagem de topo igualmente retirada de Yogashala.

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