O Yoga em mim - Maria Teresa Mota

Iniciei a minha relação com o Yoga por sugestão de leituras, com um firme propósito: o bem-estar resultante da meditação.

Depois de equívocos - fruto do caminho que, de repente, se apresenta sob a forma de água e não sabendo eu nadar me agarrei fortemente ao pedaço de madeira que por ali ia a passar - tinha, então, uma bóia salva-vidas...

Assim foi o meu primeiro contacto com algo que me conduziu ao reino dos asuras [1] e lá treinei até que os devas [2] me vieram reclamar.

Este processo, que escrito se resume a duas linhas no tempo da vida, demorou anos.

Anos em que sobretudo me castiguei, com um profundo sentimento de raiva inicialmente de outros e depois de mim… por ter caído nas armadilhas do ego durante tanto tempo… (ironia: era no entanto o mesmo ego que continuava a reclamar).

Mas novos contactos foram feitos e novos olhares, ensinamentos que calavam fundo dentro de mim porque claros e perfeitamente entendidos, iam forjando de novo um chão.

Na revelação deste chão a afirmação da existência de uma Ordem, Ishvara. ”Tudo está perfeitamente bem”.

Comecei de novo a treinar o meu andar, já sem tábuas salva-vidas, antes com referências de outros seres que se cruzaram e se vão cruzando, percebendo uma hierarquia de saber e uma reverência a todos os mestres.

Sri gurubhyo namah [3]

Aos poucos eles foram-se apresentando: Ganesha, Shiva, Laksmi, Hanuman, Durga.

De figuras da Cultura Indiana que nada significavam, elas foram-se instalando dentro de mim, ou eu as fui descobrindo dentro de mim. Esta relação tão intrínseca foi-se tecendo ou revelando e reconheço diariamente a sua presença.

Quando as minhas mãos se unem em Añjali Mudra, muitas vezes sinto a comoção do belo sem forma que me inunda. Quando o mantra se apresenta acolhendo-me e por extensão o mundo inteiro, percebo quem sou.

Desta presença surgiu o ritual, uma luz, um incenso, uma flor, um enorme sentido de gratidão. O que durante tanto tempo não teve significado, rituais ditos religiosos, ganhava um sentido.
Os devas estavam na minha vida… de novo. Um reconhecimento profundo de pertença, como se eu tivesse regressado a casa após longa Viagem.

O último elemento a entrar, veio sob a forma de jyotish [4], trazendo-me a confirmação do pouco poder que disponho, nesta relação com o Todo e todos que é a vida. Contrariamente ao pensado, nenhum pesar se instalou nem me incapacitou de agir, como ser de acção que sou. Continuo a fazer minhas escolhas e a treinar a aceitação dos resultados.

Aqui fica a minha imensa gratidão a todos os seres que de todas as formas me vão conduzindo a perceber que ”tudo está perfeitamente bem”.

Posso então descansar na alegria e na tristeza... com devas e asuras!

Namastê!

[1] São grandes yogis “e têm capacidade de ascese. Por ignorância e confusão seus egos são inflados, e o desejo de poder toma conta de suas mentes” – Patrick L.S Van Lemmeren, Simbolismo védico e autoconhecimento, Cadernos de Yoga, 27.
[2] Divindades, seres de luz, elementais da natureza.
[3] “Minha saudação aos mestres”.
[4] Astrologia védica.

Originalmente publicado em www.YogaVaidika.com com a permissão da autora (Teresa Mota). Imagem de topo propriedade de Himalayan Academy, usada sob licença Creative Commons.

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