Entrevista - Gustavo Cunha

No âmbito de um trabalho académico para o Curso de Estudos Asiáticos na Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, respondi recentemente a uma entrevista sobre Yoga elaborada por António Matos. Aqui fica a entrevista na íntegra:

PERCURSO NO YOGA

1 - Como o Hatha yoga apareceu na sua vida? Como se decidiu a praticar, estudar e ensinar esta tradição?
Cruzei-me com o Yoga pela primeira vez em 1993, aos 15 anos. Nessa altura, buscava algo que exercitasse o corpo e a mente. Assim, procurei nas Páginas Amarelas uma escola de Yoga próxima de casa, no centro do Porto, minha cidade Natal. Achei essa escola e desloquei-me até lá para pedir informações, mas, estava fechava. Sem pensar mais no assunto, decidi regressar ao Karaté, pois já tinha praticado antes. Ainda passei também pelo Tae-Kwon-Do e, posso dizer, que as Artes Marciais foram a minha fonte de inspiração e motivação durante a adolescência. Nas filosofias orientais reencontrei os valores que sempre pautaram a minha vida: humildade, altruísmo e compaixão.
Nove anos mais tarde, pós 11 de setembro, em 2002, fui à mesma escola de Yoga e, desta vez, consegui inscrever-me. Procurava, um refúgio das atribulações que surgiram com o atentado às Torres Gémeas. Fiquei a saber que a escola pertencia ao método Swásthya Yoga e, de imediato, foi-me proposto fazer formação profissional. Desconhecia, totalmente, os diferentes métodos e propostas de Yoga. Foi assim que, logo nessa fase inicial de “enamoramento”, rumei ao Brasil para formação intensiva. Durante 2 anos fiz inúmeros cursos, formações intensivas, frequentei seminários e assisti a palestras enquanto dava os primeiros passos no ensino do Yoga.
Em 2004, desvinculo-me do Swásthya Yoga. A minha afinidade pelo Yoga ia mais longe do que a desse método específico. Resolvo pesquisar as raízes profundas do Yoga, na Índia, as suas tradições milenares. Dessa forma, encontro o Hatha Yoga de Matsyendra, bem como, o Ashthanga Yoga de Patañjali, o Jñana Yoga das Upanishads, o Karma Yoga e o Bhakti Yoga da Bhagavad Gita.

2 – Com quem apreendeu Hatha yoga?
A minha primeira professora foi Edna Mendes, do método Swásthya Yoga. Nessa altura, fiz formação com Rosângela de Castro, também desse método. Sem, dúvida que elas foram fundamentais para a minha permanência no Yoga. São mestras, sem dúvida, à sua maneira. Senhoras de um entendimento particular, profundo, amoroso do que significa estar no Yoga e no mundo com o coração aberto e recetivo ao próximo, um espírito de sacrifício tremendo e um calor humano contagiante que transcende métodos, tradições e individualismos.
Em termos de Hatha Yoga, propriamente dito, dei os primeiros passos com Miguel Homem e Pedro Kupfer, durante retiros e formações. Seguiram-se aulas regulares com Dulce Azevedo, Gonçalo Correia e Cláudia Villadelprat, influenciados pelo mestre B.K.S. Iyengar.

"Pedi permissão a Swami Dayananda Saraswati para ser seu discípulo.
Nos últimos anos, estudo Jñana Yoga com a professora Gloria Arieira."


3 - Você está ligado formalmente ligado a alguma sampradaya tradicional com raízes na Índia, e a alguma instituição yogica no ocidente?
Em 2008, durante a minha estadia no Arsha Vidya Gurukulam em Anaikatti, Índia, um centro de estudo tradicional (ashram), pedi permissão a Swami Dayananda Saraswati para ser seu discípulo. Dessa forma, nos últimos anos, estudo Jñana Yoga (Vedanta) com a professora Gloria Arieira, do Vidya Mandir, no Rio de Janeiro, discípula de Swami Dayananda.

4 - Você é um já antigo praticante e estudioso do yoga e sânscrito, dá aulas, cursos, retiros, edita um site, coordena sat sanghs, e inclusive traduziu o Hatha yoga pradipika para português. O que o motivou a esse trabalho e como tem sido a receptividade?
Na verdade, em 2007 disponibilizei uma tradução do texto Gheranda Samhita para o Português, a partir do Espanhol. A ideia surgiu pois, na altura, não encontrei uma tradução em Português desse texto, que me pareceu ser fundamental para a minha prática e entendimento de Hatha Yoga. Entretanto, pelo que fui sabendo, Caio Miranda, pesquisador brasileiro do Yoga publicou uma tradução desse texto no seu livro “Hatha Yoga, a Ciência da Saúde Perfeita”, em 1962. Também George Feurstein, reconhecidamente um grande entendedor desta arte, recentemente falecido, publicou uma tradução em “A Tradição do Yoga”, no ano de 2001.
De qualquer maneira, essa tradução foi bem aceite e tem servido de base a estudo e prática de muitos aficionados, tendo sido usada em cursos e investigações, pelo que percebo em emails que recebo.

O HATHA YOGA

5 - Hatha yoga é o “yoga da harmonia do Sol e da Lua ( + e -)” ou é o “yoga da força/violência”? Como definiria Hatha yoga?
Eu entendo o Hatha Yoga como a utilização do sólido para chegar no subtil, ou seja, partindo do corpo tendo por meta o espírito. A transmutação, a alquimia energética dos asanas e pranayamas, juntamente com todas as outras técnicas e atitude correta fundem-se, formando Yoga.
Alguém diria: “mexeu o corpo, é Hatha Yoga”. Isto quer dizer que, se sentamos em silêncio, na mesma posição horas a fio, meditando não é, em princípio, Hatha Yoga – podemos chamar de Raja Yoga, Dhyana Yoga, etc, aludindo à contemplação. Se a prática é, unicamente, a repetição constante de um mantra, não é Hatha Yoga – poderíamos chamar de Japa Yoga, Mantra Yoga, entre outros. Mas, combinando as posturas (asana), as técnicas de purificação corporal (kriya), as contrações de grupos musculares (bandhas), os selos energéticos com o corpo e mãos (mudrás), técnicas respiratórias (pranayama), meditação (samyama) e outras, então, a meu ver, será algum tipo de Hatha Yoga, quer seja Ashtanga Vinyasa, Iyengar, Swásthya, etc.
A tradução da palavra Ha e Tha individualmente com Sol e Lua pode apontar para o caminho do equilíbrio e harmonização entre pólos opostos: masculino/feminino, atividade/passividade, aquecimento/arrefecimento, razão/emoção e, na minha opinião, é uma forma válida de perceber o Yoga.
Também é referido que o Hatha Yoga é o “yoga do esforço extremo”. A atitude de disciplina (tapas), o “fogo” que se sente ao sair da nossa “zona de conforto” para nos excedermos pode ser encarado dessa forma.
As escrituras definem o Yoga como “yoga é equanimidade na mente” (Bhagavad Gita II.48 - yoga samatvam ucyate) e “yoga é o controle total dos movimentos da mente” (Yoga Sutra de Patanjali 1.2 – yogashcittavrittinirodhah). O importante é perceber que essa cultura milenar, da qual o Yoga faz parte, tem por objetivo o reconhecimento de si-mesmo como não diferente da totalidade. Hatha, Raja ou Jñana, o Yoga é uma visão, uma cultura muito própria baseada num conhecimento que vem sendo passado pelos mais experientes e de interpretação pessoal e revelação espontânea.

6- Como o Hatha yoga se insere na tradição mais vasta e antiga do yoga, nomeadamente no contexto do Hinduísmo?
Sanatana Dharma (o Dharma Eterno), mais conhecido como Hinduísmo, é o nome usado na tradição para definir os conceitos do antigo pensamento indiano ligado aos Vedas. Hoje em dia, ainda se vê o Sanatana Dharma, pelo menos no Ocidente, como uma religião ligada ao culto de milhares de deuses e deusas e, de alguma forma, ligada a Buda, ao Yoga e a tudo o que seja esotérico e místico indiano.
Na realidade, o Sanatana Dharma é a base do Hatha Yoga. É um corpo de conhecimento vastíssimo do qual o Hatha Yoga também faz parte. A chave para a compreensão da sabedoria dos Vedas é, nada mais nada menos que, a visão dos objetos do mundo (asat) como sendo não-diferente do Criador (sat), e, do universo (jagat) como uma manifestação e resolução cíclica e infinita da consciência (shiva/purusha) junta com o poder ou energia de natureza (shakti/prakrti). Assim sendo, o Hatha Yoga tem o intuito de levar o praticante a essa visão.
De resto, foram encontrados nas ruínas de Mohenjo-daro, uma antiga cidade com mais de 5.000 anos, localizada no atual Paquistão, selos esculpidos com yogis em posturas de Yoga.

7 – O Hatha yoga é mais baseado em tradição (oral) ou em literatura escrita? Qual a literatura fundamental do Hatha yoga?
O Yoga é sempre tido como uma tradição oral, aliás, como a toda a cultura milenar indiana, desde os Vedas. Algures pelo caminho, o ensinamento passa a ser escrito e assim preservado em folhas de bananeira. Atualmente, proliferam livros e traduções em todas as língua e suas versões digitais desses pergaminhos, mas se formos procurar vemos que Hatha Yoga Pradipika é um texto da Idade Média, assim como a Shiva Samhita. Mais tarde, pensa-se ter surgido a Gheranda Samhita.

8- O Hatha yoga ligado à Nath Sampradaya desenvolveu uma visão filosófica própria ou bebe no Advaita Vedanta, nos “tantrismos” difusos e em variadas escrituras e darshanas do hinduísmo?
O professor Carlos Eduardo Barbosa, professor de Sânscrito em Universidades no Brasil, e editor do site Yogaforum.org, é dos poucos ocidentais, que eu conheça, que teve acesso direto à tradição Natha através de um congresso na Índia. Sendo fluente em Sânscrito, penso ter surpreendido os seus representantes pelo seu conhecimento e, assim, foi-lhe revelada alguma informação mais hermética. Será com ele, portanto, que essas questões deverão ser esclarecidas. Acredito que deveremos falar sobre o que conhecemos e recebemos por “via direta”. Não tenho conhecimentos suficientes dessa tradição para falar sobre ela. Porém, sigo com atenção o trabalho do professor Carlos, inclusivé da sua tradução dos Yoga Sutras, que trazem outra “luz” ao assunto.

9 – É costume apontar-se o Hatha yoga como um "yoga tântrico". O que isso significa?
Dos Tantras, tratados indianos sobre a Grande Mãe e o Universo, diz Pedro Kupfer em “Tantra = sexo?”: “Tantra é o nome de um vasto leque de ensinamentos práticos que têm como objetivo expandir a consciência e libertar a energia primal do ser humano, chamada kundalini. O princípio comum a todos os caminhos práticos de Tantra é que as experiências do mundo material podem usar-se como alavanca para conquistar a iluminação, já que este é a manifestação de uma outra realidade, sutil e superior, que está conectada com a nossa própria natureza.” (vide yoga.pro.br). A descoberta dessa realidade, “sutil e superior”, é também o objetivo do yoga. A utilização das técnicas apontadas no Tantra por parte do praticante torna o yoga em “yoga tântrico”.

"Yoga é completo em si mesmo. Yoga tudo engloba."


10 – Qual a relação entre Hatha yoga e Yogasutras (atribuídos a Patanjali)?
Yogasutra é um compêndio de yoga. Nele, refere-se apenas uma postura – asanam. Pode significar “postura sentada”, isto é, o yoga pratica-se sentado, (ex: em padmasana, virasana, sukhasana, etc) ou “assento”, o local onde o praticante pratica (alguns textos indicam praticar em cima de uma pele de tigre ou erva). Nesse texto, não são referidas mais nenhumas posturas físicas, ao contrário da Hatha Yoga Pradipika ou da Gheranda Samhita. Porém, em Hatha Yoga usa-se o restante esquema do Ashtanga Yoga proposto por Patanjali, nomeadamente, Yama e Nyama, Pranayama, Pratyahara, Dharana, Dhyana e Samadhi. É essa a relação.

11 – O Hatha yoga é completo em si mesmo como caminho de libertação, ou carece de Rája yoga e Advaita Vedanta?
Yoga é completo em si mesmo, qualquer que seja a sua vertente – esta é a minha opinião. Yoga tudo engloba. Não há hatha sem raja, nem raja sem moksha.

12 – O Hatha yoga, "tântrico", e o Advaita Vedanta de Shankaracharya convivem bem, nomeadamente em termos de valoração do corpo e do sensorial?
Não vejo nenhuma contrariedade.

13 – Como articular Saktí (real) e Maya (ilusória)?
A pergunta é sobre Shakti (energia) ou Sat (real)? Se falamos da oposição Sat/Maya a ideia dos shastras é que percecionamos Maya pelos sentidos e Sat através de moksha.

14 – Íshwara/"Deus" é um conceito presente e importante no Hatha yoga tradicional? Shiva é o Deus dos Hatha yogins?
Na Gheranda Samhita temos várias referências quanto a isso. Por exemplo: “Sem dúvida, quem dominar esta técnica (Shambavi) será similar a Adinátha (Shiva), Náráyána (Vishnu) e Brahma.” (GS III-66). É comum referir-se shiva como o arquétipo do Yogi, o seu soberano.

15 - Qual o objectivo final do Hatha yogin, e como alcançá-lo? Samadhi é o culminar do processo yogico, e uma experiencia momentânea de esclarecimento acerca do Ser, ou é a libertação final, e sempre presente? Como compreender samadhi e moksha neste contexto?
Moksha é o objetivo final do hatha yogin, tornar-se um jivanmukti, livre da ideia de si mesmo como diferente do Criador e da Manifestação. Existem vários tipos de samadhi, veja-se o Yogasutra sobre o tema. Se a visão é permanente o último estágio é adquirido. Até lá, epifanias, experiências ou sensações são normais mas não finais.

16 – Hatha yoga tradicional e saúde/terapia estão ligados?
Os proveitos físicos, muitas vezes desejados e bem vindos, são, todavia, encarados como um subproduto do yoga.

17 – Qual a importância do Guru e da Sangha no Hatha yoga tradicional?
Toda a importância. Guru (mestre, guia) remove a escuridão, a ignorância e concede a luz, o conhecimento. E, é nas reuniões com os demais buscadores que um grupo de apoio se forma e promove o autoconhecimento.

18 - Concebe vários “níveis de religiosidade” no Hatha yoga, com praticantes tradicionais e modernos, alguns empenhados em atingir a libertação, outros só preocupados com a força, flexibilidade e beleza física?
Concebo vários níveis de entrega e objetivos, por parte do praticante, cada um válido e aceitável.

19 – O Hatha yoga tradicional como caminho de libertação é possível fora de uma estrutura monástica e iniciática, com dedicação intensiva e exclusiva? Sim, claro que sim. Veja-se BKS Iyengar, casado, pai e, sem dúvida, reconhecido como um mestre de yoga vivo.

20 – O Hatha yogin tradicional é necessariamente vegetariano? Qual a importância do vegetarianismo?
É ensinado que, tradicionalmente, a cultura do yoga é vegetariana. Talvez a maior parte dos professores de yoga o sejam. No entanto, também se diz que o próprio Hitler era vegetariano. Assim sendo, não vejo o vegetarianismo como condição sine qua non para o desenvolvimento da compaixão e altruísmo – reflexos de espiritualidade e iluminação.

21 - O Hatha yogin tradicional era um homem comum, casado e chefe de família, integrado no sistema de varnashramadharma, ou era um asceta celibatário?
São apresentados, ao longo da História, os dois percursos.

O HATHA YOGA NA ATUALIDADE

22 – Como é o seu dia-a-dia, enquanto yogin?
Começo o dia com oração. Termino o dia em shavasana. Pelo meio, vivo a minha vida, como qualquer pessoa.

23 – As práticas técnicas tradicionais podem assemelhar-se às práticas técnicas actuais típicas, de "60 minutos num tapete, com vários angas encadeados"?
Do que eu conheço de hábitos indianos modernos, algumas pessoas, iniciam o dia, pelo menos, com meditação e pranayama. Outras ainda, bem portuguesas, começam com algumas posturas e kriyas tradicionais. Ao longo do dia, podem fazer outras técnicas ou repeti-las. Ou seja, distribuem o seu sadhana ao longo do dia. Não sei se tradicionalmente seria essa a ideia. Penso que cada qual fará o melhor que pode. E, dessa forma, por vezes, as tais “duas aulas por semana” é tudo o que podem encaixar na sua agenda.

24 - Como vê as diferenças entre uma vida de Hatha yogin tradicional, renunciante, iniciática, e o hatha yogin contemporâneo ocidental, que faz cursos de formação (inclusive profissionais), workshops de especialização e aulas de yoga com vários professores? Com naturalidade.

25 – Granthis, chakras, nadis e Kundalini são linguagem simbólica ou correspondem a realidades psico-físico-energéticas?
O que é a realidade?

26 – O que é Kundalini neste contexto?
No contexto dos Tantras é uma energia de transmutação, básica ao ser humano, suporte da vida.

27 - E prana/pranayama?
Basicamente, é a energia do alento, embora se fale em 5 pranas conforme a sua função e, no prananyama, como técnicas de expansão/dinamização do prana no corpo.

28 – O que são mudras na tradição do Hatha yoga?
Selos energéticos. Kechari mudra é muito conhecido e consiste na colocação da ponta da língua junto do palato mole.

29 – O que são asanas e qual a sua importância no Hatha yoga tradicional? São meras posições de meditação ou vão além disso? Há lugar a “canalização de energias”?
São as posturas, simbólicas e energéticas usadas pelos praticantes de yoga. Desde as posturas sentadas às invertidas são donominadas de asana. Tradicionalmente, são descritas várias posturas. Chega a dizer-se que “existem tantos asanas como criaturas vivas” (Gheranda Samhita II-1, II-2)” e que “Shiva ensinou 84 posturas (Hatha Yoga Pradipika I-33)

30 - O mais importante é a postura física ou a respiração (pranayama) e atitude interior (bhava, visualizações, meditação, etc.)?
Deixo à consideração de cada um. Para mim, a postura interna (dedicação ao próximo e disponibilidade para acomodar os outros) é de louvar.

31 - Os asanas têm nomes meramente indicativos e simbólicos ou esses nomes têm uma importância técnica e esotérica?
O nome é importante, é uma chave para que cada um se relacione com o seu objeto de contemplação, neste caso o asana.

32 - Quais as técnicas de meditação mais típicas? Os yantras geométricos são de origem tantrica e típicos do Hatha yoga tradicional?
A tradição fala de quatro meditações: a meditação de relaxamento, de concentração, de expansão e sobre os valores. Uma quinta meditação é o estado meditativo constante. A meditação num yantra poderá ser apelidada de uma meditação de concentração (visual).

33 – Qual o impacto do Hatha yoga tradicional no yoga pop/massificado contemporâneo?
Não sei responder a essa pergunta.

34 – Qual o impacto do mundo contemporâneo, ocidentalizado, no Hatha yoga tradicional?
Não tenho dados para medir esse impacto.

35 - O Hatha yoga, como quase toda a religiosidade hindu, era profundamente restritivo para as mulheres? Havia Hatha yoginís? Senão, como vê a actual abertura total do Hatha yoga a todos os géneros, classes sociais e culturas?
Fala-se de mulheres sábias na tradição védica, daí não ser completamente restritiva. Desconheço mestras de Hatha Yoga ancestrais mas, para falar a verdade, apenas reconheço dois ou três nomes de mestres anciãos. De qualquer forma, os textos falam do conhecimento como um tesouro a ser mantido secreto neste mundo, porém, ele aí está para quem o deseja. Espero que, sendo benéfico, realmente chegue ao buscador.

36 - Parece-lhe fazer sentido que os ciclos menstruais da mulher sejam relevantes em termos de prática-técnica?
Sim. Assim como a gravidez e a menopausa.

"Yoga significa colocar atenção no que deve ser feito, e fazê-lo, mesmo que não traga benefícios pessoais."


37 – Na sua opinião, métodos contemporâneos, como os ensinamentos de Iyengar, Ashtanga Vinyasa yoga, e outros, tanto "indianos" como cunhados já no ocidente, são Hatha yoga?
Sim.

38 - O que lhe parece da actual preponderância das técnicas de asana, do foco na perfeição técnica da postura física, e na quase identificação entre asana e Hatha yoga?
Nada mais natural. É o lado visível da cultura. Outras vezes, basta alguém estar sentado, de pernas cruzadas e de olhos fechados para ser conotado com Yoga.

39 – O Hatha yogin contemporâneo ocidental, deve ter algum papel activo e responsável na sociedade?
Sim, claro que sim. Yoga significa colocar atenção no que deve ser feito, e fazê-lo, mesmo que não traga benefícios pessoais – por vezes, a ação até poderá ser prejudicial em termos pessoais, mas para um bem maior o indivíduo sacrifica a sua vontade e age de acordo com o dever.

40 – Que perspectivas percebe na evolução do Hatha yoga para próximos tempos?
Apenas desejo a disponibilidade do Yoga para quem o busca.

41 – E no seu percurso de Hatha yogin?
Quiçá, o ensino do Yoga aos meus filhos.

Mais informações sobre o trabalho desenvolvido pelo professor Gustavo Cunha em www.yogavaidika.com.

Mensagens populares