Yoga Vasishtha: Décima Conversa

Disse o bem aventurado Vasishtha:

“Este mundo está feito de realidade e de irrealidade, e leva o selo do Todo Poderoso; está constituído de unidade e de dualidade e, no entanto, está livre de ambas. O intelecto caído que se assemelha a si mesmo ao corpo encontra-se realmente confinado nele; mas quando sabe que é idêntico ao puro Atman liberta-se do seu confinamento.

Brahman é tudo em todos; é perfeita paz, sem segundo, sem equivalência nem comparação. Como Infinito, estende-Se mediante o Seu próprio poder e abre o Seu intelecto em três direcções diferentes: criação, preservação e dissolução.

Uma vez dominada a mente, e que os seus sentidos e órgãos se tenham concentrados em Atman, aparece perante ela uma luz deslumbrante que apaga o mundo irreal, como desaparecem as trevas da noite perante a luz do sol. O mundo imaginário retira-se da vista e cai como una folha morta, e jiva fica como una semente murcha, sem poder de crescimento nem reprodução. O intelecto, solto da nuvem da ilusão que cobria a mente enganada, brilha com o resplendor de um claro céu de Outono.

Agora falei-te, oh Rama-ji, da submissão e rebaixamento da mente, primeira etapa com vista à sua santificação pelo Yoga; em seguida falar-te-ei da segunda etapa, que é a edificação e fortalecimento do intelecto.Continua com paciência, valentia e zelo incansáveis as tuas meditações e o teu auto exame e adora Deus no santo Yoga. Recorda que, se uma mente é mesquinha, cobiçosa ou se crê superior a outras, não poderá ver Deus.

Com a inquebrantável perseverança nesta via, o peregrino realiza um largo caminho até um estado que supera todas as minhas possibilidades de descrição, mas o qual o santo adepto pode ter experiência ao longo do seu trajecto. Nesse estado yóguico tudo é paz e bondade. A sílaba OM é o símbolo da totalidade.

Aprende agora o método de adorar Deus, oh discípulo bem amado. Na adoração, em todas as suas formas, deves deixar de pensar no teu corpo e separar a tua mente da tua personalidade. É necessário que a tua mente se aplique assiduamente, sob as direcções do teu Mestre, em pensar no Espírito puro e imaterial, que a partir de dentro é testemunha dos feitos e gestos do teu corpo.

A verdadeira adoração consiste apenas em meditar interiormente sem nenhuma forma exterior; obriga, pois, a tua mente à adoração do Espírito universal meditando dentro de ti. Ele é a forma do intelecto, a fonte de toda luz, e tão resplandecente como milhões de sois! É a luz interior da mente. A Sua cabeça e os Seus ombros elevam-se acima do céu dos céus; os Seus pés de lótus descem mais abaixo que o mais profundo abismo do espaço.

Os mundos que evoluem uns sobre os outros não ocupam mais que um canto do seu imenso seio. O Seu resplendor supera os limites do vazio ilimitado. Para cima, para baixo, nos quatro pontos cardinais e para todas as direcções do espaço estende-Se sem jamais diminuir e sempre sem fim. Contém em Si mesmo a esfera deste mundo, assim como todos os demais mundos com as suas montanhas e tudo o que se acha neles; e o Tempo irresistível, que sem cessar os precipita para a frente, é o guardião no umbral da Sua eternidade. Encontra-Se no centro de todas as coisas, das que constitui o Seu único dispensador de força e de energia Tat Twam Asi! Isso és tu! Adora-O dentro de ti! Pois Ele não exige que se seja um iluminado nem que se queime incenso.

Com a contínua conversa sobre este tema sagrado e reiniciando constantemente a sua busca quando se interrompe chega-se a ser plenamente consciente de Si mesmo.

A oferenda de um coração purificado e libertado tanto do desejo como da aversão resulta duma forma mais agradável que jóias preciosas e que as mais perfumadas flores.

A melhor meditação é a que se acompanha da oferenda de si mesmo ao Senhor ou ao santo Yoga.Quem adora o Senhor assim durante uma hora completa obterá a recompensa de cumprir o sacrifício do Raja, e praticar esta forma de adoração à meia noite corresponderá ao mérito de realizar um milhão de sacrifícios.

Quando os benéficos raios da misericórdia iluminem a mente do yogui compassivo e a doce influência da simpatia alcance o seu coração, então ele será o mais agradável e o mais apropriado para servir, mediante meditações yóguicas, ao Senhor que reside em seu interior.

Quando um homem tiver controlado as turbulentas paixões da sua mente graças à rectidão do seu juízo e tenha estendido sobre o seu coração e a sua mente o suave manto da compaixão e do contentamento apaziguador, então deve adorar a divina serenidade dentro de si.

Deve-se meditar em Atman e servir o Mestre tanto em alegria como em pena. Nunca lamentes o perdido e utiliza o que possuas; adora o Espírito supremo, na tua mente e na tua alma com constância e sem desfalecimento. Pelo bem de todos os seres vivos e pela salvação do universo, mantém a tua constância inclusive entre as actividades iníquas dos homens epermanece fiel ao teu voto de estar santamente consagrado o tempo todo a Brahman e ao guru.

Deixa de pensar em ti mesmo como tal ou tal pessoa; evita todo o trivial e, sabendo que tudo é o Uno universal, permanece firme no teu voto de adoração ao Espírito supremo, Brahman.

Situado num mundo de sofrimento, o homem não deveria prestar nenhuma atenção ao espectáculo das mais ou menos graves calamidades que se apresentam perante a sua vista. Não se trata mais do que tintas e tonalidades fugitivas que pintam a vazia abóbada do céu e que rapidamente se desvanecem no nada.

Qualquer que seja o sacrifício oferecido para servir ao Senhor, entende que a equanimidade da mente é a melhor oferenda e a mais eficaz. A equanimidade tem um agradável sabor e possui o poder sobrenatural de transformar tudo em ambrósia. A equanimidade dilata o coração e regozija a mente tal como inunda a luz do sol a abóbada celeste, e considera-se esta a devoção mais elevada.

Confiando no discernimento correcto combinado com o hábito da calma, os homens chegam a ser capazes de atravessar as obscuras e perigosas torrentes deste mundo. O homem virtuoso, tranquilo e sereno, benévolo com todos os seres vivos, experimenta a benéfica influência da Verdade suprema que se manifesta na sua alma.

Quem tem uma mente tão serena como a claridade da lua, seja em vésperas de uma festa ou de uma batalha, ou inclusive no momento da morte, esse, na realidade, é um santo.

Quem com o olhar satisfeito infunde sobre todas as coisas ao seu redor o esplendor da sua benevolência, esse é chamado de santo.

Quem não tolera na sua mente as tribulações desta vida por graves e persistentes que sejam e não se vê a si mesmo dentro do marco do seu corpo, esse é conhecido por ser um santo.

Oh príncipe virtuoso, quem quer que acolha com fé e piedade estas palavras que digo, com certeza crescerá dia após dia no conhecimento de Deus. Todo o sofrimento cessa para quem medita no seu interior estes ensinamentos espirituais.”Quando se pôs o sol, difundindo o seu ouro sobre o horizonte, e os lótus do lago encerraram as suas pétalas, o bem aventurado sábio Vasishtha terminou o seu discurso. O imperador e a família real tocaram os pés do sábio e o encheram de ofertas, de prata, ouro e pedras preciosas; os devas fizeram chover flores celestiais sobre os assistentes exclamando:

“Jay! Jay! Jay!”

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