O consumidor e o consumido - David Frawley

O materialismo da cultura moderna não é mais evidente, em parte alguma, do que na nossa sociedade orientada para o consumidor. A maior parte do tempo funcionamos como consumidores, tomando produtos do mundo exterior e utilizando-os. Não somos criadores, mas espetadores e consumidores de coisas que nos são dadas do exterior.

Somos consumidores não apenas no aspeto material em relação a comida, roupas, carros e novos relacionamentos, mas também nos aspetos intelectuais e espirituais, com livros novos, cassetes e seminários. Trazemos connosco a mentalidade de consumidor onde quer que vamos. Todo o consumismo é um tipo de ingestão, no qual ingerimos algum produto do mundo exterior. Nesse processo tornamo-nos mais materialistas, pesados, densos e dependentes.

O consumidor é o consumido. Ser um consumidor é estar envolvido num processo de destruição. O consumo ocorre como a inércia da matéria que se alimenta de si mesma. Eventualmente, nós próprios somos jogados fora como o jornal do dia anterior. No processo de consumir coisas, a nossa vida e criatividade são devoradas pelas forças comerciais e interesses mundanos. Ingerimos sensações temporárias ou ideias que nos mantêm distraídos, afastados do nosso verdadeiro Ser e das suas nobres aspirações.

Nós projetamos esta mentalidade orientada para o consumidor no mundo espiritual. Procuramos obter a informação espiritual certa, ir aos lugares certos e experienciar as coisas certas de modo a consumir o nosso caminho até Deus ou à iluminação. O ego é o consumidor. Consumir é a lógica do ego material para se alimentar, expandir e crescer. Ser um consumidor é o nível mais primitivo de existência. É ser uma boca, um comedor, um devorador de coisas. Não é ver, mas comer ou ser comido.

Para descobrirmos a verdade do que somos, temos que descartar a mentalidade de consumidor e reafimar a nossa dignidade espiritual como observadores desapegados. O nosso verdadeiro ser é a consciência. É imaterial, vazia de coisas, desprovida de tudo o que é exterior. Não podemos chegar à nossa verdadeira natureza através de algum tipo de consumo mas apenas deixando-nos ser consumidos por ela.


Excerto do livro Vedantic Meditation: Lighting the Flame of Awareness de David Frawley, publicado por North Atlantic Books, copyright © 2000 por David Frawley. Todos os Direitos Reservados. Este material não pode ser reproduzido em nenhuma forma ou vendido sem permissão escrita prévia de North Atlantic Books. Traduzido por Gustavo Cunha em 2009 para Cadernos do Yoga e Blogue do Centro VAIDIKA com a permissão do editor.

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