Sobre Amor e Afecto/Felicidade e Liberdade (parte1) - Paulo Vieira

Os Seres vivos são filhos da Terra e pertencentes a toda a Ordem Universal chamada Cosmos. Todos os Seres vivem em constante mudança, em constante crescimento, em constante adaptação, enfim, em constante comunicação com o mundo que se aparenta como exterior. Qualquer ser vivo, pensante ou não, vê-se envolvido neste mundo, tendo mais ou menos percepção da sua própria existência.

Mesmo que uma planta não dê qualquer sinal de dor ou de bem-estar, ela reage com acções concretas a todas as situações que lhe são apresentadas, defendendo-se se se sentir em perigo ou ameaçada e crescendo saudavelmente se as condições o permitirem.

Qualquer ser é sensível ao meio que o rodeia e qualquer ser procura uma relação óptima com esse meio envolvente, sendo que isto significa a constante luta por preservar e melhorar a própria vida, resultando por vezes na total destruição desse mesmo meio.

É condição da vida que a própria vida seja sacrificada para ela própria poder ser preservada. É assim desde que a vida vive e será sempre assim desde que a vida viva!

Aparentemente parece não existir justiça… Será justo que uma gazela perca a vida para que a vida dum leão se mantenha? Será justo que uma manada de búfalos coma toda a erva de um prado e o desbaste completamente? Será justo que a cada inspiração eu mate milhares e milhares de bactérias? Qual a vida que vale mais? A do parasita ou a do hospedeiro? Não seremos todos de certa forma hospedeiros e parasitas ao mesmo tempo?

Justo é o equilíbrio, justa é a vida, tenha ela o desenrolar que tiver! Podermos considerar mau ou bom um determinado final de uma determinada situação, mas essa consideração é relativa e está condicionada pelo conhecimento insuficiente e parcelar que temos dela. Ter uma análise absoluta ou total é ter a análise de todos os pontos de vista, é ter todo o conhecimento e então, aí seria possível opinar sobre justiça e equilíbrio. A Vida, a Natureza, o Cosmos são sagrados, constituem a totalidade, encerram todos os pontos de vista, não serão eles a justiça genuína e máxima?...

No que diz respeito ao Homem, viver com as condições mínimas parece não ser suficiente para que haja bem-estar, há até quem viva com condições excelentes e não sinta bem-estar! Há seres humanos que acumulam fortunas e bens, que têm uma família completa, que têm saúde, enfim têm quase tudo mas ainda lhes falta algo… O bem-estar, a felicidade! Muitos dos seres humanos, talvez a maior parte deles, acreditam que a felicidade virá um dia, mas apenas por breves momentos. A felicidade virá quando as tão desejadas férias chegarem, a felicidade chegará quando o retiro espiritual tiver começado, a felicidade virá quando a paternidade acontecer, a felicidade virá quando a guerra acabar, a felicidade virá… A felicidade irá quando as férias acabarem, a felicidade acabará quando o retiro tiver terminado, a felicidade terminará se o filho falecer, a felicidade desaparecerá quando a guerra recomeçar, a felicidade perder-se-á… Perceber a felicidade como algo que vai e vem é não perceber a felicidade. Confunde-se aqui o prazer resultante da satisfação de desejos com felicidade. O prazer que resulta de satisfazer este ou aquele desejo, seja o desejo de ter ou manter, ou o desejo de afastar, pessoas, objectos, situações, pensamentos ou emoções, esse prazer sim, vai e vem. Podemos então dizer que o prazer vai e vem assim como o desprazer, e se os soubermos viver com harmonia, então começaremos a perceber a felicidade…

Vejamos o exemplo do ser humano:

Um feto humano resulta da união do espermatozóide com o óvulo, sendo o primeiro do homem e o segundo da mulher respectivamente. Assim é com muitos animais e com muitas plantas, que têm um processo semelhante de reprodução, existindo um macho e uma fêmea para que haja continuidade da espécie.

Para que a espécie prolifere é necessário que macho e fêmea se unam sexualmente, e que fruto dessa mesma união resulte a fecundação, e claro, o ovo. Todo o potencial está contido nesta pequena semente, que se irá dividir milhares de milhões de vezes e constituir um novo individuo incrivelmente equipado, para a seu belo tempo fecundar ou ser fecundado e originar mais vida. É o milagre da multiplicação! Como se processa essa união?

O feto indefeso e totalmente dependente dos cuidados da mãe pouco faz. Apenas se divide cumprindo plenamente a sua função, usando recursos energéticos sempre provenientes da progenitora. A natureza ocupa-se de todos os pormenores, até ao mínimo detalhe, assegurando a prosperidade para ambos.

O feto desenvolve-se harmoniosamente vivendo num ambiente perfeito na maior parte dos casos e vai crescendo até ao momento do parto. Chega a hora de sair da redoma, é tempo de cortar o cordão umbilical. A constante fonte de energia, de protecção, de bem-estar termina e avizinha-se então um momento que irá ser traumático. O bebé nasce e vem ao mundo, e com ele o choro, o frio, a fome e a falta da mãe. De oitenta passa para oito, da fartura passa à amargura. Nos primeiros dias de vida o bebé sente-se incompleto, esta sensação de incompletude termina quando dorme ou mama, e pelo menos nestas duas acções o bebé encontra paz profunda, sendo a presença da mãe, sem dúvida alguma, fonte de paz, de tranquilidade e de segurança.

Este processo lindo e delicado é característico de muitos mamíferos, como por exemplo dos elefantes, que desenvolvem laços familiares e afectivos fortíssimos que duram para toda a vida. Nos seres humanos a relação mãe/filho é um factor decisivo para o bom desenvolvimento da saúde e da personalidade, sendo que a amamentação produz, nestes últimos dois, efeitos incrivelmente benéficos, tanto na mãe quanto no filho.

A acção de amamentar é talvez uma das acções mais lindas da natureza. A mãe contempla a paz e o sentimento de completude experimentados pelo filho quando este mama. O filho, que por sua vez mama o leite, faz com que a mãe se sinta completa. Por isso se diz que o leite materno é perfeito e completo, é que além de ser o mais nutritivo é também rico em carinho e ternura.

Com a amamentação os primeiros laços de amor e de afecto são experimentados por ambos e a sensação de segurança mútua é reforçada. A mãe sente o filho totalmente protegido no meio dos seus braços e o filho sente-se totalmente amparado pela mãe. A sensação de segurança é máxima.

Os primeiros sinais de infelicidade surgem quando o bebé sente a falta da mãe. A falta da mãe representa a falta de afecto, de alimentação e de segurança, e o bebé na maior parte dos casos chora. A mãe vem em seu auxílio e dá-lhe de mamar ou então muda-lhe as fraldas se for o caso. Se o mal era fome ou eram fezes fica tudo bem, porém o bebé chora de novo assim que a mãe se afasta. Algo lhe falta! Segurança e afecto são o que lhe falta! Aparentemente o ser humano precisa de ambos para estar feliz! Sabemos que qualquer mãe ama o seu filho (em condições normais assim é, salvo raras excepções, que na maior parte dos casos derivam de graves distúrbios psicológicos da mãe), mas se esse amor não for demonstrado através de acções que envolvam afecto, o bebé não sentirá esse amor mas sim a falta dele. Esta necessidade de que algo seja transmitido através de afecto, que nada mais é do que a demonstração de amor, está e estará sempre presente na vida dos seres humanos e na maior parte dos animais, senão em todos.

Todos os seres vivos emanam esta força atractiva que acaba por uni-los. Os seres são atraídos por outros semelhantes e também são atraídos por outros completamente diferentes. Quantos seres diferentes vivem num corpo humano? Pensem na flora intestinal, na quantidade de bactérias benéficas que são imprescindíveis ao bom funcionamento do intestino. As bactérias foram atraídas para lá e lá se mantêm pois o nosso organismo também as atrai, oferecendo-lhes um micro meio ambiente perfeito para que elas vivam, e em troca elas ajudam na digestão dos alimentos e na saúde dos intestinos.

Ao que parece, e por todo o Universo existem forças de atracão, e claro está, se algo está a ser atraído para norte está a ser afastado do sul. Logo, esta força de atracção tem pelo menos um efeito duplo, atrai e afasta simultaneamente. Se uma pedra cai ao chão é porque se afasta do céu! Se caminho rumo ao cume de uma montanha é porque me afasto do vale da mesma! Vejam que no universo inteiro as forças de atracão nunca param por um segundo. O planeta Terra e os restantes planetas orbitam em torno do sol, pois são atraídos por ele! A nossa galáxia Via Láctea gira em torno de um buraco negro que atrai tudo para si, fazendo com que a galáxia tenha a aparência de uma espiral. Todos os seres são atraídos para o bem-estar e estão em constante movimento orbital em torno desse bem-estar. Os seres procuram esse bem-estar constantemente durante toda a existência.

Final da primeira parte. Para continuar a ler clique aqui.

Reproduzido com a permissão do autor (Paulo Vieira) para www.YogaVaidika.com. Imagem de topo propriedade de Himalayan Academy, usada sob licença Creative Commons.

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